Na "mulher interessante", a beleza é secundária, irrelevante... e, mesmo, indesejável. A beleza interessa nos primeiros quinze dias; e morre, em seguida, num insuportável tédio visual. Era preciso que alguém fosse, de mulher em mulher, anunciando: - "Ser bonita não interessa. Seja interessante!"
Catar os cacos do caos como quem cata no deserto o cacto - como se fosse flor.
Catar os restos e ossos da utopia como de porta em porta o lixeiro apanha detritos da festa fria e pobre no crepúsculo se aquece na fogueira erguida com os destroços do dia.
Catar a verdade contida em cada concha de mão, como o mendigo cata as pulgas no pêlo - do dia cão.
Recortar o sentido como o alfaiate-artista, costurá-lo pelo avesso com a inconsútil emenda à vista.
Como o arqueólogo reunir os fragmentos, como se ao vento se pudessem pedir as flores despetaladas no tempo.
Catar os cacos de Dionisio e Baco, no mosaico antigo e no copo seco erguido beber o vinho ou sangue vertido.
Catar os cacos de Orfeu partido pela paixão das bacantes e com Prometeu refazer o fígado - como era antes.
Catar palavras cortantes no rio do escuro instante e descobrir nessas pedras o brilho do diamante.
É um quebra-cabeça? Então de cabeça quebrada vamos sobre a parede do nada deixar gravada a emoção
Cacos de mim Cacos do não Cacos do sim Cacos do antes Cacos do fim
Não é dentro nem fora embora seja dentro e fora no nunca e a toda hora que violento o sentido nos deflora.
Catar os cacos do presente e outrora e enfrentar a noite com o vitral da aurora