sexta-feira, 11 de julho de 2008

traduzir-se...

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?

Ferreira Gullar

2 comentários:

TRAJETÓRIAS disse...

Show de Bloggg ... rsrsrs ... Qdo eu crescer como Blogggeira... quero ser como você... hehehe...
BeijoKKKsss bem meleKKKentasss
adoro você sua grudenta...

Paulo D'Auria disse...

F. Gullar é um dos meus poetas preferidos. Quando era adolescente tinha um livrinho de uma coleção chamada "Literatura Comentada", nooossa... li aé gastar!
Fagner também adorava, o Fagner dessa fase, antes de enveredar pelo brega...
O resultado é que, para mim, um poema de Gular cantando por Fagner só pode ser uma obra-prima!

Beijos!