quinta-feira, 21 de agosto de 2008

não há vagas...

O preço do feijão não cabe no poema.

O preço do arroz não cabe no poema.

Não cabem no poema o gás, a luz, o telefone

A sonegação do leite, da carne, do açúcar, do pão.

O funcionário público não cabe no poema

Com seu salário de fome

Sua vida fechada em arquivos.

Como não cabe no poema

O operário, que esmerila seu dia de aço

E carvão nas oficinas escuras.

- porque o poema, senhores,

Está fechado: “não há vagas”

Só cabe no poema

O homem sem estômago

A mulher de nuvens

A fruta sem preço.

O poema, senhores,

Não fede nem cheira.

(Ferreira Gullar)

Um comentário:

Paulo D'Auria disse...

Ferreira Gullar não é tudo?

Foi influência decissiva para mim.
Ali pelos 15 anos, ganhei uma coleção da de livrinhos chamada "Literatura Comentada".
Foi então que conheci Ferreira Gullar e seus poemas diferentes de tudo que já tinha lido em termos de poesia.

Parabéns pelo post!

Beijos