O preço do feijão não cabe no poema.
O preço do arroz não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás, a luz, o telefone
A sonegação do leite, da carne, do açúcar, do pão.
O funcionário público não cabe no poema
Com seu salário de fome
Sua vida fechada em arquivos.
Como não cabe no poema
O operário, que esmerila seu dia de aço
E carvão nas oficinas escuras.
- porque o poema, senhores,
Está fechado: “não há vagas”
Só cabe no poema
O homem sem estômago
A mulher de nuvens
A fruta sem preço.
O poema, senhores,
Não fede nem cheira.
(Ferreira Gullar)
Um comentário:
Ferreira Gullar não é tudo?
Foi influência decissiva para mim.
Ali pelos 15 anos, ganhei uma coleção da de livrinhos chamada "Literatura Comentada".
Foi então que conheci Ferreira Gullar e seus poemas diferentes de tudo que já tinha lido em termos de poesia.
Parabéns pelo post!
Beijos
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