sábado, 18 de outubro de 2008

uma parte de mim...

Na primeira parte da minha infância (até 5 anos) morei em uma fazenda.Era simplesmente incrível. Um universo inteiro a minha disposição. Até hoje sei exatamente como tudo era(com riqueza de detalhes). Onde ficava cada coisa, o cheiro, gosto, cores, sons...tudo.

Havia uma horta enorme onde minha mãe plantava os legumes e as verduras, que eu visitava todos os dias no final da tarde. O que eu ia fazer lá? Arrancar as cenouras limpá-las com a mão e comê-las lá mesmo. Eram deliciosas aquelas cenouras!

E o jardim?! Transformava-se numa casa imaginária linda e perfumada. Cada parte era uma dependência da casa. Onde estavam as margaridas brancas era a cozinha, a sala ficava junto a flores grandes e vermelhas que pareciam de veludo, mas que não sei o nome, o quarto era junto das rosas. Era o lugar mais perfumado e onde ficavam as bonecas, todas arrumadas e penteadas.

Existiam próximo ao jardim, várias árvores grandes que davam muita sombra. Eram os cinamomos. Onde ficava meu balanço. Esse era o 1º dos meus lugares preferidos. Eu subia todos os dias no cinamomo mais alto. Ficava horas lá em cima, imaginando coisas incríveis que eu faria: voar de avião, ser médica, viajar pelo mundo todo, mudar meu nome; primeiro para Regina depois seria Perla.

Sem contar que lá de cima eu podia ver muito longe, muito além da fazenda. Pulei várias vezes do cinamomo com um pano amarrado nos costas (como a capa do super homem), porque queria voar. Se ele conseguia porque eu não conseguiria? Também pulei algumas vezes com um guarda-chuva aberto, na tentativa de planar. Nos desenhos animados sempre dava certo! No final do dia, depois de todas as tentativas de voar frustradas, eu sentava no balanço e voava...balançava tão alto, mas tão alto que quando fechava os olhos tinha certeza que havia conseguido... até que minha mãe me chamava pra tomar banho e jantar. Sempre quis voar!

E as frutas? Muitas frutas! Pêssego, bergamota, laranja, pêra, pitanga(amo) e melancia(a minha preferida). Todas a minha mercê. Bastava que eu fosse ao pé e apanhasse.

Mas havia ainda outro lugar, o 2º na escala de importância. Era um pedaço de floresta que ficava relativamente perto de nossa casa. Ah! Lá era meu palácio! Eram tantas árvores, arbustos, troncos caídos, flores silvestres... Não! Não era isso! Eram torres, escadarias imensas, a sala do trono, guardas reais, damas, o jardim real...e eu: a rainha! Eram horas e horas vivendo no meu castelo, atendendo aos súditos. Sempre dizia a eles, quando vinha reclamar de dificuldades, porque vocês não plantam uma horta igual a da minha mãe? Porque não criam galinhas e porcos como meu pai? Porque sempre vinham a mim para querer ajuda? Eles tinham que ser mais inteligentes! Será que eu era uma boa rainha?

Mas no meu castelo também era lugar de ser romântica. Era o lugar de imaginar que um dia viria um príncipe de outro reino que se casaria comigo e seria o rei. Eu era precoce para pensar no amor? Talvez. Mas é preciso ter que idade para querer amar?

Meu castelo ainda era lugar para me esconder quando estava triste ou havia apanhado da minha mãe (o que acontecia com freqüência porque eu era “muito” comportada). No meu castelo eu podia chorar trancada na torre, ninguém me atrapalharia. Nunca gostei de se interrompida quando estou chorando.

Mas havia meu meio de transporte: meu triciclo. Mas é claro que eu não andava nele de forma convencional. Havia uma inclinação no terreno que ia do jardim ao castelo. Então eu colocava o triciclo lá em cima, sentava e nem pedalava, deixava que ele descesse ladeira abaixo em alta velocidade. Lógico que quando chegava lá em baixo eu caía igual abóbora cai de carroça.

Mas e daí? Levantava e empurrava o triciclo até o topo para descer de novo. Era tão emocionante a descida, a velocidade, que qualquer arranhão valia a pena.

Os segundos que eu descia eram tão especiais que eu fazia isso várias vezes, até não agüentar mais.

....

acho que continua... kkkkkkkkkkkkkk

(eu mesma :)...)

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