sábado, 31 de maio de 2008

aula de inglês


— Is this an elephant?
Minha tendência imediata foi responder que não; mas a gente não deve se deixar levar pelo primeiro impulso. Um rápido olhar que lancei à professora bastou para ver que ela falava com seriedade, e tinha o ar de quem propõe um grave problema. Em vista disso, examinei com a maior atenção o objeto que ela me apresentava.

Não tinha nenhuma tromba visível, de onde uma pessoa leviana poderia concluir às pressas que não se tratava de um elefante. Mas se tirarmos a tromba a um elefante, nem por isso deixa ele de ser um elefante; mesmo que morra em conseqüência da brutal operação, continua a ser um elefante; continua, pois um elefante morto é, em princípio, tão elefante como qualquer outro. Refletindo nisso, lembrei-me de averiguar se aquilo tinha quatro patas, quatro grossas patas, como costumam ter os elefantes. Não tinha. Tampouco consegui descobrir o pequeno rabo que caracteriza o grande animal e que, às vezes, como já notei em um circo, ele costuma abanar com uma graça infantil.

Terminadas as minhas observações, voltei-me para a professora e disse convincentemente:
— No, it's not!

Ela soltou um pequeno suspiro, satisfeita: a demora de minha resposta a havia deixado apreensiva. Imediatamente perguntou:

— Is it a book?
Sorri da pergunta: tenho vivido uma parte de minha vida no meio de livros, conheço livros, lido com livros, sou capaz de distinguir um livro a primeira vista no meio de quaisquer outros objetos, sejam eles garrafas, tijolos ou cerejas maduras — sejam quais forem. Aquilo não era um livro, e mesmo supondo que houvesse livros encadernados em louça, aquilo não seria um deles: não parecia de modo algum um livro. Minha resposta demorou no máximo dois segundos:

— No, it's not!
Tive o prazer de vê-la novamente satisfeita — mas só por alguns segundos. Aquela mulher era um desses espíritos insaciáveis que estão sempre a se propor questões, e se debruçam com uma curiosidade aflita sobre a natureza das coisas.

— Is it a handkerchief?
Fiquei muito perturbado com essa pergunta. Para dizer a verdade, não sabia o que poderia ser um handkerchief; talvez fosse hipoteca... Não, hipoteca não. Por que haveria de ser hipoteca? Handkerchief! Era uma palavra sem a menor sombra de dúvida antipática; talvez fosse chefe de serviço ou relógio de pulso ou ainda, e muito provavelmente, enxaqueca. Fosse como fosse, respondi impávido:

— No, it's not!
Minhas palavras soaram alto, com certa violência, pois me repugnava admitir que aquilo ou qualquer outra coisa nos meus arredores pudesse ser um handkerchief.

Ela então voltou a fazer uma pergunta. Desta vez, porém, a pergunta foi precedida de um certo olhar em que havia uma luz de malícia, uma espécie de insinuação, um longínquo toque de desafio. Sua voz era mais lenta que das outras vezes; não sou completamente ignorante em psicologia feminina, e antes dela abrir a boca eu já tinha a certeza de que se tratava de uma palavra decisiva.

— Is it an ash-tray?
Uma grande alegria me inundou a alma. Em primeiro lugar porque eu sei o que é um ash-tray: um ash-tray é um cinzeiro. Em segundo lugar porque, fitando o objeto que ela me apresentava, notei uma extraordinária semelhança entre ele e um ash-tray. Era um objeto de louça de forma oval, com cerca de 13 centímetros de comprimento.

As bordas eram da altura aproximada de um centímetro, e nelas havia reentrâncias curvas — duas ou três — na parte superior. Na depressão central, uma espécie de bacia delimitada por essas bordas, havia um pequeno pedaço de cigarro fumado (uma bagana) e, aqui e ali, cinzas esparsas, além de um palito de fósforos já riscado. Respondi:

— Yes!
O que sucedeu então foi indescritível. A boa senhora teve o rosto completamente iluminado por onda de alegria; os olhos brilhavam — vitória! vitória! — e um largo sorriso desabrochou rapidamente nos lábios havia pouco franzidos pela meditação triste e inquieta. Ergueu-se um pouco da cadeira e não se pôde impedir de estender o braço e me bater no ombro, ao mesmo tempo que exclamava, muito excitada:

— Very well! Very well!
Sou um homem de natural tímido, e ainda mais no lidar com mulheres. A efusão com que ela festejava minha vitória me perturbou; tive um susto, senti vergonha e muito orgulho.

Retirei-me imensamente satisfeito daquela primeira aula; andei na rua com passo firme e ao ver, na vitrine de uma loja,alguns belos cachimbos ingleses, tive mesmo a tentação de comprar um. Certamente teria entabulado uma longa conversação com o embaixador britânico, se o encontrasse naquele momento. Eu tiraria o cachimbo da boca e lhe diria:

-- It's not an ash-tray!
E ele na certa ficaria muito satisfeito por ver que eu sabia falar inglês, pois deve ser sempre agradável a um embaixador ver que sua língua natal começa a ser versada pelas pessoas de boa-fé do país junto a cujo governo é acreditado.

Rubem Braga - Maio, 1945

A crônica acima foi extraída do livro "Um pé de milho", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1964, pág. 33.

escreve-me...

Escreve-me...
Pede a brisa para trazer-me tuas palavras
E, permitirei a ela beijar-me os lábios d'alma
No ondear de cada entardecer
Que transborda lembranças
Desaguando saudade...

Escreve-me...
Nas cores de cada amanhecer,
em raios que iluminam as frestas da tua ausência
Luzindo o vívido sorriso que embala sonhos
Sussurros e desejos...
A brincar neste coração, segredos...

Escreve-me...
Em aromas que passeiam flores,
Talvez num cheiro de fruta proibida
Exalando o suor da terra molhada
Trazendo-te mistérios
Desvendando malícias do tempo

Escreve-me...
Quem sabe assim eu possa ouvir o silêncio do teu nome
Envolto num lume de horizontes
Na vigília da esperança que evoca a saudade...

Escreve-me...
Assim não encontro a certeza da tua ausência.

Sandra M. Julio

quinta-feira, 29 de maio de 2008

valsinha

Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar

Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar

E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda a cidade enfim se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz.

Vinícius de Morais e Chico Buarque de Holanda

realidade...

Na prática, a teoria é outra.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

suponho...

"Suponho que me entender.
não é uma questão de inteligência
e sim de sentir, de entrar em contato...
Ou toca, ou não toca."

terça-feira, 27 de maio de 2008

liberdade...

"...Liberdade, essa palavra
Que o sonho humano alimenta
Que não há ninguém que explique
E ninguém que não entenda..."

Cecília Meireles

domingo, 25 de maio de 2008

lua adversa...

Tenho fases, como a lua.
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!

Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

Cecília Meireles

sábado, 24 de maio de 2008

meu baú ...

Pelos caminhos da vida tentei
fechar os olhos às coisas feias,
porém, as belas tranquei-as
no meu baú de guardados.

cuidado...


"Molduras boas não salvam quadros ruins."
Charlie B. Jr

Cuidado com o que vc pinta no quadro da tua vida.

como se ama??? vc sabe??

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo à porta.
O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão.
O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por uma conjunção estelar...
Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem ou gosta do Caetano.
Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que
provoca.
Ama-se pelo tom de voz, pela maneira como os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.
Amar não requer conhecimento prévio, nem consulta no SPC.
Ama-se justamente pelo que o amor tem de indefinível.
Honestos existem aos milhares. Generosos têm às pencas. Bons motoristas, bons pais de família, tá assim, ó!
Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é...!

quarta-feira, 21 de maio de 2008

cicatriz

nascer
é ser novinho em folha
e já deixar cicatriz

viver
é cobrir os outros
de cicatrizes
e ser coberto

mas nem tudo
são cicatrizes

algumas incisões
definitivamente
não se fecham

por isso
aliás
morremos

Ruy Proença

terça-feira, 20 de maio de 2008

segunda-feira, 19 de maio de 2008

fotografia...

Cada vez que me vou
Levo junto da minha pele
As tuas fotografias para ver
Cada vez que a tua ausência
Vem devorar o meu coração
E não tenho outro remédio
Senão amar-te...

E na distância posso te ver
Quando tuas fotos me ponho a ver
E nas estrelas teus olhos ver
Quando tuas fotos me ponho a ver

Cada vez que te procuro, te vais
E cada vez que te ligo não estás
É por isso que volto a dizer
Que tu só nas minhas fotos estás...(bis)

Quando há um abismo enorme
Que se põe entre nós dois
Eu me valho da lembrança
E me lembro da tua voz
E de novo sinto que me dói o coração
E não tenho outro remédio
Senão amar-te...

E na distância posso te ver
Quando tuas fotos me ponho a ver
E nas estrelas teus olhos ver
Quando tuas fotos me ponho a ver

Cada vez que te procuro, te vais
E cada vez que chamo não estás
É por isso que volto a dizer
Que tu só nas minhas fotos estás...(bis)

me ame com ternura, me ame de verdade...

Me ame com ternura,
Me ame com doçura,
Nunca me deixe partir.
Você tornou minha vida completa,
E eu te amo tanto.

Me ame com ternura,
Me ame de verdade.
Todos os meus sonhos realizados,
Porque, meu amor, eu amo você,
E eu sempre amarei.

Me ame com ternura,
Me ame por muito tempo.
Leve-me ao seu coração,
Pois é lá que eu pertenço.
E nós nunca nos separaremos.

Me ame com ternura,
Me ame, querida.
Diga-me que você é minha,
Eu serei seu durante todos os anos,
Até o final dos tempos.

sábado, 17 de maio de 2008

amooooooooo caféee...será q já disse isso?




Afasta o sono. Desperta os sentidos. Aproxima as pessoas. Acompanha bons momentos. Acompanha maus. Substitui o almoço. Quiçá o jantar. Inicia negócios. Finaliza outros. É servido no início da manhã. E ao final de cerimônias de casamento. Nas reuniões tranqüilas e nas estressantes também. Algumas pessoas adoram fraco. Outras forte ou médio. Algumas tomam pelando e forte. Outras fraco e frio. Pode ser com muito açúcar. Pode ser sem nenhum. Pode também ser amargo. Alguns optam por medianamente adoçado. Em uma xicrinha. Em uma xicrona. Na caneca nova. Na caneca velha. No mug escrito "papai eu te amo". Na porcelana da vovó. Com leite para alguns. Au latte para outros. Curto para eles. Americano para elas. Servido pelo barista. Ou pela mocinha da padaria. Com adoçante. Com cubinhos de açúcar para os mais frescos. Simplesmente expresso. Com um pauzinho de canela. Com chocolate de menta. Com bastante leite. Com um pingo de leite. Sem nenhum leite. Deliciosamente pingado. Várias vezes ao dia. Uma vez ao dia. Quentinho em dias de frio. Importado para os mais snobs. Nacional para os idealistas. Descafeinado para os cuidadosos. Orgânicos para os naturebas. Aromatizados. Com agrotóxicos. Solúvel ou instantâneo para os práticos e apressados. Com after taste. Com certo sabor residual. Com corpo médio, leve ou encorpado. Com maior acidez ou mais leve. Frutado ou florado para os mais delicados. Achocolatado para os carentes. Tradicional. Cappuccino. Mocaccino.

Afinal...vamos tomar um cafezinho? kkkkkkkkkkk ;-)

verdade popular...ou cantiga popular?


O anel que tu me deu era vidro e se quebrou...

O amor que tu me tinhas era pouco e se acabou...

timidez

"Diálogo

— E você, por que desvia o olhar?

(Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarrá-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos.)

— Ah. Porque eu sou tímida."

Rita Apoena

...pensamentos...

“É muito fácil ser pedra.O difícil é ser vidraça"

sexta-feira, 16 de maio de 2008

o gato e a gaivota... Luis Sepúlveda

Esta é a história do gato Zorbas. Um dia, uma formosa gaivota apanhada por uma maré negra de petróleo deixa ao cuidado dele, momentos antes de morrer, o ovo que acabara de pôr. Zorbas, que é um gato de palavra, cumprirá as duas promessas que faz nesse momento dramático: não só criará a pequena gaivota, como também a ensinará a voar. Tudo isto com a ajuda dos seus amigos Secretário, Sabetudo, Barlavento e Colonello, dado que, como se verá, a tarefa não é fácil, sobretudo para um bando de gatos mais habituados a fazer frente à vida dura de um porto como o de Hamburgo do que a fazer de pais de uma cria de gaivota...

Dizem que o livro é para crianças, mas a mensagem é para todas as idades...

convida-me só para jantar...

E não queiras depois fazer amor.
Convida-me só para jantar
num restaurante sossegado
numa mesa de canto
e fala devagar
e fala devagar
eu quero comer uma sopa quente
não quero comer mariscos
os mariscos atravancam-me o prato
e estou cansada para os afastar
fala assim devagar
devagar
não é preciso dizeres que sou bonita
mas não me fales de economia e de política
fala assim devagar
devagar
deita-me o vinho devagar
quando o meu copo estiver vazio.
Estou convalescente
sou convalescente
não é preciso que o percebas
mas por favor não faças força em mim.
Fala, estás-me a dar de jantar
estás-me a pôr recostada à almofada
estás-me a fazer sorrir ao longe
fala assim devagar
devagar
devagar

Ana Goês

quinta-feira, 15 de maio de 2008

quem não estudou este texto? kkkkkkkkkkkkk

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

Manuel Bandeira

sobre a beleza...

A borboleta é a transgressão
do aparentemente feio
tornar-se belo...

O casulo é o espaço
para reclusão voluntária,
onde o tempo de ser concretiza-se.

O aparentemente feio,
torna-se leve...
porque a beleza não é bela!
É leve, solta, libertária.

(Anônimo)

sobre a queda...

“A nossa maior glória não reside no fato de nunca cairmos, mas sim em levantarmo-nos sempre depois de cada queda."
Confúcio

quarta-feira, 14 de maio de 2008

e...

E por falar em saudade, onde anda você?
(Vinícius de Morais)

momentos sinceros...

"E não importa

para onde vamos seguindo,

entre nós sempre haverá

a lembrança de um olhar,

de um carinho

e da integridade

de momentos sinceros."

(Mario Quintana).

 

terça-feira, 13 de maio de 2008

que seria da vida sem tempero... ;-)



Não como nada que nada

Mas bebo tudo que pinga

Me derramo buscando sabor....então

Em tudo preciso de tempero

para dar gosto, fazer chorar ou adoçar

Eu não sei muitas coisas

Eu não sei ir embora de bar

Sem antes experimentar um pouco de pimenta

Não sei a letra inteira de "O que é o que é" do Gonzaguinha

Eu não sei quem eu sou

Mas eu sei "viver e não ter a vergonha de ser feliz"

Eu sei o aqui e o agora

Sei do calor que existe, e do frio que me espera

Sei que tudo está

Aquém e além de tudo

No meio o infinito

Sou Eu

Mas findo o infundado

Pra tudo que é lado

E brindo ao acaso, sorrio e me adoço

E quando me perco tento buscar o tempero da vida.

Seja em um abraço, beijo....

E

me

basto.
                                                                        
(Rose Zanza)

segunda-feira, 12 de maio de 2008

voar...

"Gosto dos venenos mais lentos
Das bebidas mais fortes
Dos cafés mais amargos
Tenho um apetite voraz
E os delírios mais loucos
Vc pode até me empurrar de um penhasco
Que eu vou dizer:E daí?
Eu adoro voar..."

(Clarice Lispector)

ética

“Ética é o conjunto de valores e princípios que utilizamos para decidir nossa conduta em sociedade. É o que orienta nossas ações em relação às três grandes questões da vida humana - querer, dever e poder -, que são exatamente os territórios da nossa ação. Em última instância, a palavra ética, de origem grega, remonta ao vocábulo "ethos", do século 6 a.C, o qual significa "a morada do humano", isto é, o que nos dá identidade, o que nos separa do mundo selvagem, do mundo animal. Aquilo que nos faz conviver de forma fraterna. A palavra "ethos" significa, portanto, o lugar onde nos abrigamos, no qual é preciso haver princípios e valores que permitam a convivência. Esse conjunto de princípios e valores é exatamente o que chamamos de ética.”

Mário Sérgio Cortella

eu sou mãe...


Desde antes de ter a consciência exata que poderia ser mãe já sonho com isso. Era meu sonho mais antigo que foi realizado.
Agora é meu motivo de orgulho, minha razão de lutar e vencer. A razão de eu superar todos os obstáculos que a vida me coloca... sou mãe. Sou muito abeçoada, porque sou mãe de 3 mulheres INCRÍVEIS!!!
Sou mãe...que alegriaaaaaaaaaaaaa!!!!

sábado, 10 de maio de 2008

Alice e eu... velhas conhecidas...

"Quem é você?, perguntou a Lagarta.

Não era uma maneira encorajadora de iniciar uma conversa.

Alice retrucou, bastante timidamente:

Eu - eu não sei muito bem, Senhora, no presente momento - pelo menos eu sei quem eu era quando levantei esta manhã, mas acho que tenho mudado muitas vezes desde então.

O que você quer dizer com isso?, perguntou a Lagarta severamente. Explique-se!

Eu não posso explicar-me, eu receio, senhora, - respondeu Alice - porque eu não sou eu mesma, entende?"

"Eu receio que não posso colocar isso mais claramente", Alice replicou bem polidamente, "porque eu mesma não consigo entender, para começo de conversa, e ter tantos tamanhos diferentes em um dia é muito confuso."

"Não é", discordou a Lagarta.

"Bem, talvez você não ache isso ainda", Alice afirmou,

"mas quando você transformar-se em uma crisálida - você irá algum dia, sabe - e então depois disso em uma borboleta, eu acredito que você irá sentir-se um pouco estranha, não irá?"

"Nem um pouco", disse a Lagarta.

"Bem, talvez seus sentimentos possam ser diferentes", finalizou Alice,

"tudo o que eu sei é: é muito estranho para mim.. E a lagarta respondeu: nossos comportamentos só dependem dos outros,por isso estamos mudando constantemente.


(Alice no País das Maravilhas)

a longa e sinuosa estrada....


quinta-feira, 8 de maio de 2008

temos...


Olhe para todos a seu redor e veja o que temos feito de nós.

Não temos amado, acima de todas as coisas.

Não temos aceito o que não entendemos porque não queremos passar por tolos.

Temos amontoado coisas, coisas e coisas, mas não temos um ao outro.

Não temos nenhuma alegria que já não esteja catalogada.

Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora, pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas.

Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos.

Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo.

Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda.

Temos procurado nos salvar, mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes.

Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de ciúme e de tantos outros contraditórios.

Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível.

Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa.

Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada.

Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos o que realmente importa.

Falar no que realmente importa é considerado uma gafe.

Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses.

Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer "pelo menos não fui tolo" e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz.

Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos.

Temos chamado de fraqueza a nossa candura.

Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo.

E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia.

CLARICE LISPECTOR

parte 2... kkkkkkkkkkkkkkk

Eu nunca morri

Eu nunca fiz macarrão com molho branco

Eu nunca comi escargot

Eu não viajei para a Índia

Eu não me despi de índio

Eu não pari ainda

Eu não nasci de novo

E nem nasci de um ovo

( - Graças a Jurupari!

Porque teria quebrado

No dia da piracema

Quando caí da bunda de Macunaíma

No colo de Iracema)

Sobretudo e subtudO

Nunca fiz um poema sobre algo que eu nunca tinha dito antes

Por incapacidade de pensar

Em uma forma não risível

De desinvizibilizar

O indizível


.

Paulo DAuria - http://paulodauria.zip.net


parte 1

Aí você me disse,

- Por que você não faz um poema sobre algo que nunca tenha dito antes?

Abriu-se o mundo_____ ________Quedei-me mudo
Eu poderia falar - tudo - Eu já havia lhe dito
Nuncativenadaadizer)(Vocênãotinhaouvidosparamim


Então

Feito criança que brinca com insetos

Destrinchei e esparramei palavras sobre a folha em branco

larvas pa largas

parvas la la lavras

parla vras virais

varais


Assim

Como quem não diz nada

Como quem já disse tudo

Como quem

Chegou

Ao

Fim



Paulo DAuria - http://paulodauria.zip.net

terça-feira, 6 de maio de 2008

em gotas...


"Minhas lágrimas
não caem mais
eu já me transformei em pó
e os meus gritos
não se escutam mais
estão na direção do sol
meu futuro
não me assusta ou faz
correr pra desprender o nó
que me amarra a garganta
e traz o vazio de viver só

Se alguém encontrou
um sentido
pra vida, chorou
por aumentar a perda
que se tem ao fim de tudo
transformando o silêncio
que até então é mudo
naquela canção
que parece encontrar a razão
mas que ao final se cala
frente ao tempo que não pára
frente à nossa lucidez"

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Livro/Filme: Germinal - Emilie Zola


GERMINAL é um romance do escritor Emilie Zola, porventura um dos mais famosos.

A cena tem lugar no norte da França enquanto uma greve provocada pela redução dos salários. Além dos aspectos técnicos das extrações minerais e as condições de vida nos agrupamentos dos mineiros, Zola também descreve o principio das organizações política e sindical da classe operária tal como as divisões já existindo entre Marxistas e Anarquistas.

Para compor Germinal, o autor passou dois meses trabalhando como mineiro na extração de carvão. Viveu com os mineiros, comeu e bebeu nas mesmas tavernas para se familiarizar com o meio. Sentiu na carne o trabalho sacrificado, a dificuldade em empurrar um vagonete cheio de carvão, o problema do calor e a umidade dentro da mina, o trabalho insano que era necessário para escavar o carvão, a promiscuidade das moradias, o baixo salário e a fome. Além do mais, acompanhou de perto a greve dos mineiros.

...toque

amigos...


BONS AMIGOS

Abençoados os que possuem amigos, os que os têm sem pedir.
Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende.
Amigo a gente sente!

Benditos os que sofrem por amigos, os que falam com o olhar.
Porque amigo não se cala, não questiona, nem se rende.
Amigo a gente entende!

Benditos os que guardam amigos, os que entregam o ombro pra chorar.
Porque amigo sofre e chora.
Amigo não tem hora pra consolar!

Benditos sejam os amigos que acreditam na tua verdade ou te apontam a realidade.
Porque amigo é a direção.
Amigo é a base quando falta o chão!

Benditos sejam todos os amigos de raízes, verdadeiros.
Porque amigos são herdeiros da real sagacidade.
Ter amigos é a melhor cumplicidade!

Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho,
Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!

Machado de Assis

Amargo - Jayme Caetano Braun


Amargo

Velha infusão gauchesca
De topete levantado
O porongo requeimado
Que te serve de vazilha
Tem o feitio da coxilha
Por onde o guasca domina,
E esse gosto de resina
Que não é amargo nem doce
É o beijo que desgarrou-se
Dos lábios de alguma china!

A velha bomba prateada
Que atrás do cerro desponta
Como uma lança de ponta
Encravada no repecho
Assim jogada ao desleixo
Até parece que espera
O retorno de algum cuera
Esparramado do bando
Que decerto anda peleando
Nalgum rincão de tapera!

Velho mate-chimarrão
As vezes quando te chupo
Eu sinto que me engarupo
Bem sobre a anca da história,
E repassando a memória
Vejo tropilhas de um pêlo
Selvagens em atropelo
Entreverados
na orgia
Dos passes de bruxaria
Quando o feiticeiro inculto
Rezava o primeiro culto
Da pampeana liturgia!

Nessa lagoa parada
Cheia de paus e de espuma
Vão cruzando uma, por uma,
Antepassadas visões
Fandangos e marcações
Entreveros e bochinchos
Clarinadas e relinchos
Por descampados e grotas,
E quando tu te alvorotas
No teu ronco anunciador
Escuto ao longe o rumor
De uma cordeona floreando
E o vento norte assobiando
Nos flecos do tirador!

Sangue verde do meu pago
Quando o teu gosto me invade
Eu sinto necessidade
De ver céu e campo aberto
É algum mistério por certo
Que arrebentando maneias
Te faz corcovear nas veias
Como se o sangue encarnado
Verde tivesse voltado
Do curador das peleias!

Gaudéria essência charrua
Do Rio Grande primitivo
Chupo mais um, pra o estrivo
E campo a fora me largo,
Levando o teu gosto amargo
Gravado em todo o meu ser,
E um dia quando morrer,
Deus me conceda esta graça
De expirar entre a fumaça
Do meu chimarrão querido
Porque então irei ungido
Com água benta da raça!!!

Jayme Caetano Braun - poeta gaúcho


Poeta, payador bilíngüe, sem precedentes nesse gênero no Rio Grande do Sul. Deixou vários livros publicados e uma imensa produção de poesias e payadas, onde muito se perdeu por falta de registro. Improvisava com uma fluência rica em figuras e uma grande clareza de estilo.

Em 1954, publicou seu primeiro livro, "Galpão de estância". Quatro anos depois lançou "De fogão em fogão". Em 1965, publicou o livro "Potreiro de gauchos". No ano seguinte, lançou mais três livros, "Bota de garrão"; "Brasil Grande do Sul" e "Paisagens perdidas".

Muitas de suas poesias foram musicadas por grandes compositores, como é o caso de Noel Guarany, seu grande parceiro em clássicos como "Milonga das três bandeiras" e "Payador, pampa y guitarra". Teve, também, diversas composições em parcerias com Pedro Ortaça gravadas pelo mesmo, como "Trovador negro", "Milonga" e "Milonga para uma flor". Em 1974, lançou o livro "Vocabulário pampiano". Em 1990, lançou "Payador e troveiro", que seria seu último livro.

domingo, 4 de maio de 2008

Faroeste Caboclo - Legião Urbana




Essa é pra quem, como eu, viveu em Brasília nessa época... ôooo saudadeeeeeeee

aos amigos de todos os tempos... saudades...



Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás


Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...


Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!


Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar...


Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?


Hoje é do jeito que achou que seria...

Quantos amigos você jogou fora?


Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?


Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos, ninguém quer saber?


Quantas mentiras você condenava?

Quantas você teve que cometer?


Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?


Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?


Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?

...